quinta-feira, março 03, 2011

Formigas ou pilhas?

Dias atrás estava no aeroporto de Congonhas esperando meu vôo (Ponte aérea graças a Deus pouco tempo de vôo), e como cheguei bem cedo para evitar os problemas climáticos tão conhecidos dos paulistanos comecei a caçar o que fazer, ao ver de soslaio uma livraria não hesitei e fui entrando (Com aquela pontinha de medo, pois nunca saio de mãos vazias de uma livraria e meu bolso acaba sofrendo) mas qual minha surpresa ao verificar que a maioria dos títulos eram sobre como vencer nos negócios, 100 dicas de marketing, seja um vendedor Pitbull (Que catzo é um vendedor Pitbull? Será que ele morde o cliente?) enfim, um Kg de informações para condicionar o cidadão, para mantê-lo focado, para torná-lo competitivo, o supra-sumo do buziness. Fiquei meio deprimido e creio que pela primeira vez na vida sai de uma livraria sem um livro sequer, eu precisava respirar, fui até a lanchonete pedi uma água (ô aguinha cara) enquanto bebia pessoas ao meu lado discutiam sobre suas carreiras e toda gama de injustiças que fizeram aquela gostosa estagiária superá-los na busca da tão almejada promoção. Mais uma vez tentei abstrair todo aquele ambiente executivo, subi as escadas fiquei esperando a pessoa que viajaria comigo, comecei a notar o turbilhão de pessoas seguindo em fila indiana para o setor de embarque, cada qual levando sua bagagem, o fluxo aumentava gradativamente e a cada murmurinho uma busca por promoção, uma tentativa de mostrar-se competente, uma insatisfação com a falta de oportunidades. Minha falta de ar aumentava na mesma proporção dos diálogos “comerciais”, dentro da aeronave o cidadão sentado ao meu lado abre um jornal de economia, fitando cada coluna como se fita uma musa nua. Quando já me sentia deprimido o suficiente um individuo sentado duas cadeiras à frente levanta com o avião prestes a decolar somente para puxar mais um pouco o saco do ilustre chefe, comentando da foto linda que faria de toda equipe de vendas, e de como planejava os próximos eventos da empresa. Resultado? Tomou uma sonora bronca do piloto, situação deprimente. Decidi ler a revista do avião, fui me acalmando, olhei pela janela e vi o mar, somente neste momento lembrei o que estava pensando quando pisei em Congonhas, pois pouco antes havia visto um carro com placa de Recife, e entrei no aeroporto pensando:
Recife a capital brasileira dos naufrágios, poxa queria mergulhar lá!
Ao retornar de viagem vejo um programa na cultura onde uma educadora diz que nossas crianças precisam voltar a brincar, viro de lado vejo uma foto numa revista sobre um notebook e a foto é uma mulher sentada na praia de biquíni usando o apetrecho tecnológico em questão (O mais correto seria uma caipirinha em sua mão, ou não?). Espreguicei-me no sofá, respirei fundo, e ao refletir sobre toda aquela situação, me veio a imagem da Matrix, estamos cada vez mais parecidos com aquelas “pilhas humanas”, lembrei de Woyzeck e a revolução industrial. Revolução? Evolução? O homem está “evoluindo” para uma espécie de formiga, não tão comprometida quanto a original, e sem a menor idéia para onde deva seguir.
É acho que Sr. Smith estava correto...

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