segunda-feira, fevereiro 18, 2008







Por:Osvaldo Ruy Junior


Parte 1


Prédio alto, 26 andares, o vento sussurra como encanto de sereia nos ouvidos de Atadolfo, ao olhar para baixo a vertigem é evidente, mesmo assim este pobre cidadão paulistano sobe no parapeito, abre os braços e ao som da “canção” dá o impulso necessário para o último salto de sua vida. Nos jornais a manchete é a mesma, por que Atadolfo pulou? Por que abdicou de sua vida sem mais nem menos? Estava empregado tinha filhos, família. Como pode alguém com uma situação tão tranqüila dar cabo de sua vida? Entrevistaram a viúva, fizeram sensacionalismo, entrevistas com psicólogos, todo aquele teatro de vampiros, enquanto o caso de Atadolfo ainda era notícia, até esfriar o corpo e cadáveres frescos substituírem sua foto na capa dos noticiários. Mas realmente, qual seria o motivo, sem demagogia, sem sensacionalismo? Para descobrir a verdade, só mesmo seguindo os últimos passos da vida de Atadolfo.

1 semana atrás

Manhã chuvosa na capital, Atadolfo seguia para o escritório, como sempre a combinação povo burro + transporte público caótico deixavam o pobre funcionário em cacarecos, os vidros fechados do coletivo, o povo grudado as suas células, o pobre nem conseguia olhar de soslaio, desceu um ponto antes, pois não agüentava mais aquela situação sufocante, lhe faltava o ar, aquilo era a realidade de um cotidiano que a muito lhe pesara a fronte, seguiu mesmo com a chuva torrencial marcando seu corpo carcomido de civilização, de poça em poça, seu pé se transformava em um maracujá de gaveta, o que mantinha seu corpo aquecido era o ódio por tudo que tinha de passar no maçante dia-dia da metrópole, mais duas conduções e estaria finalmente em seu local de trabalho, um escritório apertado, cheirando a mofo, e com ar condicionado quebrado, seu chefe tinha uma teoria interessante que se baseava na seguinte frase:
-“Eu acerto, nós estamos resolvendo, e Atadolfo para variar errou de novo!”
Sua vida profissional era uma constante guerra de nervos, por mais que ama-se seu ganha pão, nada justificava todos os sapos que engolia, as pessoas que passavam a maior parte do tempo com aquele cidadão, o tinha como um otário e sempre que possível jogavam suas culpas nos ombros do pobre Atadolfo, o ambiente era sufocante, as condições eram precárias, e as constantes ameaças de demissão só aumentavam a tensão no ambiente de trabalho. No horário de almoço seu vale não cobria o mês inteiro, precisando ele, “pendurar” a metade do mês no boteco fétido onde almoçava, vivia de picadinho praticamente o mês inteiro, como o restaurante era um pouco afastado não era novidade chegar um pouco atrasado para a etapa crepuscular de sua labuta, quase sempre levando broncas Homéricas de seu asqueroso chefe. Esse era seu cotidiano, e como tinha família, e uma acentuada quantia de dívidas engolia tudo e arrotava para dentro tentando assimilar da melhor maneira possível à digestão de injúrias contínuas. As tardes eram longas, cada vez mais se sentia amarrado, algo estava fora da ordem, mas como? Sua vida era uma rotina aritmética, não havia espaços para desordem, mesmo assim se sentia longe de tudo, de seus sonhos, de seus ideais, a cada dia a vida lhe afastava mais e mais de sua felicidade...


CONTINUA...

2 comentários:

BizucoGirl Insight disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
BizucoGirl Insight disse...

Então, eu disse que não comentaria nada sobre este texto, pois achei muito pesado, mas mesmo assim vou dar minha opinião sobre o assunto.
É o seguinte: Esse senhor estava agüentando de tudo, os esporros do chefe, o stress, a pressão e toda a loucura possível que nossa grande São Pulo pode nos oferecer. Mas quando, ele o homem pacato e tranqüilo foi no final de tarde no boteco mais próximo tomar uma cervejinha para relaxar e o cara o balcão disse para ele que não tinha "Polar" e ceva mais confirmada de todos os tempos! Nossa! O cara pirou, viu que suportava tudo, menos ficar sem o seu bálsamo espiritual!
E foi assim que esse pobre infeliz decidiu dar cabo de sua vida sem amor, tranqüilidade e sem "Polar"...NO EXPORT!!!