terça-feira, outubro 30, 2007


Agente somos inútil!

Ontem foi um dia daqueles, em que você tenta, tenta, e não consegue chegar em casa. Sabe como é? Tudo da errado, e quanto maior a vontade de chegar no aconchego do seu lar, mais imprevistos acontecem. Esperei o trânsito fluir comendo um sanduíche no boteco do lado do escritório, pela TV notei que a enorme serpente vermelha atingia seus vastos kilômetros de congestionamento, um vento soprava indicando que ainda naquela noite choveria, aguardei mais ou menos uma hora até decidir seguir minha trajetória, já no ponto de ônibus, espero, espero e nada, as pernas já doíam quando o famigerado bólido chegou, entrei e logo fiz parte da multidão, lotado era um termo brando para o estado que se encontrava o interior da condução, sem contar que das terras remotas de onde vinha, devido alguns pingos em seu vidro, pude notar que por lá já havia chovido, resultado? Todos os vidros fechados, logo imaginei - “O vírus do Ebola por aqui, estaria igual pinto no lixo!” – Mas mesmo assim decidi não me preocupar muito, pois logo estaria em meu palácio, protegido e feliz, liguei meu MP3 e sorridente cantarolava baixinho as melodias que invadiam meu sistema auditivo, mais cinco minutinhos e cadê o som? Olho na tela do aparelhinho e de forma cruel, e robotizada aparece escrito em fonte digital - “Low Power” – O sangue subiu feito mercúrio em termômetro, contei até dez, relaxei, tentei abrir a mochila para pegar meu livro, mas foi em vão, não conseguia mover meus braços, o piloto com um par de luvinhas de couro preta, se imaginava o Speed Racer, só não calculou que seu ônibus estava mais para carro Mamute, que para Match5, resultado? A cada curva uma nova emoção, até o momento crucial, sim meus amigos, nosso nobre motorista enfiou seu lindo ônibus bicolor na traseira de uma Pick-Up, ai desceu o Speed (motorista), e seu fiel escudeiro que se parecia muito com o Gorducho (Cobrador), depois de minutos de um debate construtivo, e ouvindo o apelo da massa que já estava verde dentro do Titanic de quatro rodas, o Speed resolveu abrir as portas e deixar a multidão que se acotovelava seguir o fluxo. Lá estava eu, a pé e seguindo até o ponto mais próximo, pronto para esperar mais uma hora para pegar outro transporte tão confortável, foi quando me bateu um estalo...Sim meus amigos, se eu anda-se mais um pouco teria várias opções de ônibus, sim vou caminhar até o centro ali chegaria fácil ao meu destino. Depois de quinze minutos de caminhada o ponto parecia um Oásis, que visão mágica, confesso que meus olhos se encheram d´água, controlei minha emoção e logo estava em uma nova condução, e o que é melhor, sentado, sim meus amigos sentado, olho no relógio do meu celular tremendo espanto ao ver 21:40, ainda estava na rua, mas tudo bem, logo chegaria em casa. A viagem seguia tranqüila, eu sentadinho já lendo meu livro quando o trânsito resolve mais uma vez mostrar sua face medonha, ambulância pra cá, polícia pra lá, e logo estava composta a cena, surgiram alguns amarelinhos, cones pipocavam no escuro asfalto, quase rasguei o livro, o ódio foi ganhando formas nunca antes imaginadas, lembrei do Michael Douglas em - “Um dia de fúria!” – Contei até cem, e comecei pela primeira vez a cogitar que talvez chegar em casa seria impossível, com o desvio, o ônibus em que eu estava deixou de passar no ponto onde eu ia descer, resultado? Mais quinze minutos de uma bela caminhada, nervoso e pensando na vida, tento ler uma placa que diz o seguinte:
- VENDI-CE JELINHU – Puta que eu pariu! Lembrei na hora que o PT está querendo um terceiro mandato para o sem dedo, e ali eu percebi, o povo merece, merece como nunca o bom e velho barba! Lembrei também da música do Ultraje a Rigor, e Roger meu caro, você continua contemporâneo, sua música cada vez mais se enraíza no DNA do brasileiro.
Cheguei em casa as 23:10, depois desta placa, ainda passei por ruas sem iluminação, peguei um ônibus onde passageiro brigou com cobrador, vi um lixeiro cair do caminhão, e um Sr. cagando na rua. Quando finalmente cheguei em casa, um alívio tomou conta do meu ser, tomei um belo banho. Nem acredito!!!!! Ontem eu cheguei em casa!!!!!! Mas com um sentimento de “Agente somos inútil”!

Inútil
Ultraje A Rigor
Composição: Roger Moreira


A gente não sabemos escolher presidente

A gente não sabemos tomar conta da gente

A gente não sabemos nem escovar os dente

Tem gringo pensando que nóis é indigente


Inútil!A gente somos inútil!

Inútil!A gente somos inútil!

Inútil!A gente somos inútil!

Inútil!A gente somos inútil!


A gente faz carro e não sabe guiar

A gente faz trilho e não tem trem prá botar

A gente faz filho e não consegue criar

A gente pede grana e não consegue pagar


Inútil!A gente somos inútil!

Inútil!A gente somos inútil!

Inútil!A gente somos inútil!

Inútil!A gente somos inútil!


A gente faz música e não consegue gravar

A gente escreve livro e não consegue publicar

A gente escreve peça e não consegue encenar

A gente joga bola e não consegue ganhar


Inútil!A gente somos inútil!

Inútil!A gente somos inútil!Inútil!

A gente somos inútil!

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